Meu Canto do Pátio

Prisão lotada. Detentos no pátio. E eu no meu canto.

...e eu vivo calado, como quem ouve uma sinfonia de silêncios e de luz

Published by Juliana Cintra under on 15:43:00
Desaprendi a fazer aquilo que mais apreciava em mim. Sumi com minha fuga, a solução de meus problemas. Perdi a capacidade de desabafar; de colocar pra fora, esvaziar o coração. Mas foi o mundo quem fez brotar em mim um medo que a antiga ingenuidade nunca deixou crescer. Parece que de uma hora para outra a vida me fez abrir os olhos da maneira mais difícil: me levando às quedas, me mostrando respostas que ocasionalmente estiveram na minha frente, mas que pessoas ao redor sempre tiveram o poder de impedir-me de vê-las. Sempre. A timidez nunca me foi um defeito, mas agora simplesmente desaprendi a expressar-me, travei. Guardo tudo comigo e isso me faz triste como nunca. Não explicitamente triste, mas dessa vez minha máscara, coitada, já está mais do que cansada. O sorriso já não é mais mantido com a mesma segurança e quase que perfeição de antes. Já começo a perder a pose, mas lembro-me que tenho uma imagem a zelar; imagem de menina boa, feliz, inteligente, amiga. Carrego este fardo todos os dias nas minhas costas. Sou cobrada por todos. Devo algo às pessoas, como uma cantora de sucesso deve aos seus fãs. É claro que estamos falando de magnitudes diferentes. Distante de mim está ser uma celebridade, porém por todo esse lado que mostrei aos outros, esperam muito de mim. Talvez mais do que eu mesma possa oferecer. A felicidade, tão subjetiva e inapalpável, não é constante companheira minha nem de ninguém. Não espere de um ser humano bom humor e carinho a todo tempo. A vida é feita realmente de altos e baixos. Temos chateações, e elas aumentam com pessoas diferenciadas, que não se contentam com pouco, que possuem olhar crítico. Hoje não mais consigo ver o mundo sem notar em pessoas que, espantosamente, fazem NADA. Pessoas que nada têm a acrescentar. Que não procuram as pistas, que não trilham, que desistem, porque de quê adianta ir em busca de um tesouro desconhecido? Quem vai pagar pra ver? A neutralidade - já disse e repito - oprime o ser humano. Oprime, atrasa. Quem se cala não se compromete, mas não acerta nunca. Quem se cala, se machuca por dentro. Quem se cala, não ganha respeito. Quem se cala, não transforma. Quem se cala, não faz parte. Quem se cala, não começa.


E como já diria, sabiamente, Lulu Santos em uma de suas músicas, "tudo que cala fala mais alto ao coração".
Essa foi uma de minhas mais recentes e tristes descobertas.

 Penso...

Published by Juliana Cintra under on 10:30:00
Penso que a intenção é exatamente essa. Ele, em sua plena sabedoria, e me conhecendo muito bem - portanto, meus pensamentos -, enviou-me pessoas a fim de me "prender" aqui por mais tempo; ou, ao contrário, mandou-as para me mostrarem que a vida, em seu lado mascarado, pode não ser uma prisão. Sim. Demorei um pouco a perceber, mas hoje sei que a vida leva consigo muito da liberdade. E que todos temos nosso lado "vida louca vida" mas o que falta é a vontade de exercê-lo; pode ser mais cômodo continuar assim. Enforco então a possibilidade de exercer meu egoísmo. A vida me quer para usufruí-la, não para observá-la. Não mais procuro a liberdade em um utópico paraíso sem responsabilidades, o vejo agora em uma bela fuga numa tarde chuvosa para o shopping; um cinema desacompanhado; um táxi numa terça-feira; ou um ainda desconhecido passeio de ônibus. É esse o desafio: a liberdade atual é um pouco mais subjetiva, já que a repressão da sociedade a vem coibindo. Como será que a obtemos? Só sei que ao invés de tentar fugir dali, achei meu cantinho no pátio da prisão. Aí está minha liberdade. A nossa liberdade. Esta mesma que está agora submersa em nossas leituras de ELIS que nos fazem refletir sobre o que seria de nossas vidas se tivéssemos nascido anos antes. Não nascemos. Estamos aqui, "caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento". Procurando um destino completamente oposto da grande maioria. E, amantes da facilidade que me desculpem, mas não participo desse grupo e, sim, a dificuldade agora me motiva. Como por um sinal, hoje pude sentir o quão egoísta e sem amor seria eu, se privasse minha família de possuir meu sorriso, minha lágrima. Senti por alguns aparentemente intermináveis minutos a dor da perda, o desespero... e logo depois, a maior felicidade do mundo ao ouvir "Alô? Jú? Por que você tá chorando?". A vida nos enche de dúvidas e antes mesmo de solucioná-las já vem outras e outras. Hoje entendi a presença de alguém, o laço de uma família, o amor de um irmão, o amor de uma mãe. Tapava os ouvidos para não sofrer, mas só o que ouvia eram apelos, gritos de socorro. Tenho uma missão a cumprir. Ainda não entendi o por quê da vida, mas já tenho um argumento muito forte que me faz ter vontade de continuar.

Deus existe. E Ele, definitivamente, não joga dados.